Monumento aos Tropeiros nasce do resgate de memórias e se torna símbolo das origens
Inspirada em relatos pessoais e pesquisas históricas, obra resgata a antiga Rota dos Tropeiros e reforça a origem do nome Morro da Fumaça

A história de Morro da Fumaça ganha, a partir de agora, um novo símbolo de preservação e homenagem àqueles que ajudaram a moldar os caminhos do município: os tropeiros. Um monumento instalado na Praça Jaime Zanatta passará a lembrar, de forma permanente, esses homens que, entre o século XVIII e o início do século XX, cruzavam a região levando riquezas, cultura e desenvolvimento por onde passavam.
A Rota dos Tropeiros, como era conhecida, foi fundamental para o crescimento de inúmeras cidades do Sul do Brasil. Por Morro da Fumaça, os tropeiros passavam em direção ao litoral, vindos da Serra, e encontravam na geografia e no clima locais ideais para o descanso. Um dos pontos tradicionais de parada era o antigo Morro do Hospital, onde montavam acampamento, faziam fogo, preparavam alimentos e pernoitavam. Da fumaça constante das fogueiras acesas nesse morro teria surgido, segundo estudos históricos, o nome do município.
Embora existam diferentes versões sobre a origem do nome Morro da Fumaça, muitos pesquisadores apontam que a explicação mais popular, ligada às antigas olarias, não seja a mais precisa. Estudiosos como Salvan defendem que o verdadeiro motivo está justamente no caminho dos tropeiros. A fumaça das fogueiras era vista de longe, marcando aquele ponto de parada e tornando-se referência para quem cruzava a região.
Idealizado por Mário Alves Pereira, gaúcho radicado em Morro da Fumaça há mais de três décadas, o monumento nasceu de memórias familiares e de uma investigação histórica pessoal. A inspiração surgiu após uma visita a um tio de 88 anos, em Vacaria, sua cidade natal. Ao mencionar que morava em Morro da Fumaça, ouviu uma surpreendente lembrança: “Foi lá que vendemos uma tropa de gado nos anos 1950”.
Intrigado com a ligação, Mário passou a pesquisar a fundo e descobriu a existência de uma antiga charqueada na cidade, pertencente a Jacomo Serafim. Segundo relatos, os tropeiros desciam a Serra da Rocinha com centenas de cabeças de gado para serem abatidas em Morro da Fumaça. A carne era então embarcada em pequenas embarcações no rio Jaguaruna, rumo a Laguna, e de lá, enviada para outros destinos em navios maiores.
Além disso, o intercâmbio com os tropeiros ia além do gado. Eles traziam produtos da serra, como pinhão e queijo, e levavam de volta itens produzidos na região, como sal, rapadura e melado. Esse comércio de mão dupla foi essencial no período anterior à colonização italiana, fortalecendo a economia e estabelecendo conexões que moldaram o território.
A história também tem raízes na vida pessoal de Mário: seu pai foi tropeiro e depois carreteiro, profissão comum antes da popularização dos caminhões. “Tudo isso me inspirou. A trajetória da minha família, a tradição, a cultura. Fui atrás dos detalhes com a ajuda de historiadores como Maicon Marques e Paulo Espíndola, além de relatos de moradores mais antigos”, explica.
O projeto tomou forma com o apoio da então Diretora de Cultura de Morro da Fumaça, Danda Maragno, e teve apoio através da Lei Aldir Blanc. “Sem esse incentivo e sem o apoio de diversos amigos, parceiros culturais como, Metalurgica Natreb, Cerâmica Sol Nascente, Cermoful Energia, e da comissão de cultura do município, esse sonho não se concretizaria. Essa união foi fundamental para que o monumento se tornasse realidade”, destaca Mário, emocionado. O artista também relatou que as peças metálicas da obra foram cortadas pela Natreb em chapas de aço corten, resistente ao tempo e com uma camada oxidação natural que dá um aspecto de envelhecimento, dando proximidade com a longeva origem dos tropeiros na região.
Um trecho curioso da história envolve justamente o tio que inspirou a pesquisa. Após a venda do gado, ele veio receber o pagamento e passou vários dias dormindo em uma caminhonete no centro da cidade, onde os mosquitos eram tantos que a experiência ficou marcada para sempre. Esse fato ajuda a explicar também por que os tropeiros preferiam acampar nos pontos mais altos da cidade, como o Morro do Hospital, onde o vento era constante e os insetos, menos presentes.
Hoje, ao ser redescoberta, a Rota dos Tropeiros deixa de ser apenas uma lembrança do passado e se transforma em fonte de cultura, conhecimento, história e identidade. Com o novo monumento, Morro da Fumaça valoriza suas origens e convida a comunidade a conhecer e preservar essa importante herança.
O "Marco do Tropeirismo" documenta através do monumento uma parte importante da história da cidade
O evento de inauguração será no sábado, dia 09, junto da primeira edição do "Chimarrão e Tradição" que faz parte do projeto VivaMF, que tem movimentado a cidade com eventos que valorizam a cultura, a arte e o convívio comunitário.
Uma cavalgada sairá da rua vinte de maio no bairro De Costa e virá até o local da cerimônia de inauguração na Praça Fernando Zanatta, onde serão entregues às autoridades lenços alusivos ao evento e broches (pins) com o lema do tropeirismo, e outros atos festivos, e ao meio-dia será servido um carreteiro aos presentes, carreteiro este feito com a solidariedades de muitos que doaram os ingredientes.
A Praça Fernando Zanatta, base histórica do tropeirismo na cidade, será o cenário dessa festa, que também contará com música, dança, roda de chimarrão, comidas típicas e muita alegria. Entre as atrações culturais estão a apresentação da Cia de Dança Gaúcha Turma do Tchê e o show da banda Jeito Safado, que promete animar o público.
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